Todo Mundo tem uma História

Este sou eu. Em qual estereótipo você me colocaria?
Todo mundo que tem algum tempo de adventista do sétimo dia e é ligado nos assuntos da instituição, conhece os colégios internos e sabe mais ou menos como funciona.
Explicar para os meus amigos que não estão acostumados com o termo "internato" no mesmo sentido em que estamos, eu sempre explico que é mais ou menos como as faculdades americanas de filme, com dormitórios, refeitório, área de esportes, prédios para faculdade e laboratórios e gramados bem verdes. E aquele monte de gente andando pra lá e pra cá.
E é bem isso mesmo... Com algumas diferenças bem básicas, se levarmos em consideração que aqui é uma instituição cristã...

Pensando nisso, lembrei que eu assistia a todos aqueles filmes americanos de colegial  e faculdade com seus grupos de populares e perdedores e ficava pensando se as coisas eram daquele jeito mesmo.
Não sei como é nos Estados Unidos, mas aqui, felizmente não é como nos filmes.
Embora, infelizmente, existam alguns outros grupos.



Eu e o Venske. Fazemos teologia.
Você consegue ver além do pó colorido?
Não, não são os mesmos grupos clichê de filmes, aquele lance dos atletas, patricinhas, líderes de torcida, nerds e esquisitões. Embora exista gente que possa se encaixar em todos esses rótulos (exceto líderes de torcida haha).
Aqui a divisão é um pouco mais sutil, menos estereotipada. Não há as "tribos" tão óbvias, por assim dizer. E não, não há aquelas competições bobas e humilhações em público, envolvendo joguinhos e vingança. GRAÇAS A DEUS!
Mas somos centenas de seres humanos vivendo vinte e quatro horas por dia no mesmo ambiente.
Existem panelinhas. As saudáveis e as não tão saudáveis.

Não sou desses que fala mal das "panelinhas". "Panelas" existem e sempre existirão. Grupos de afinidade. Eu tenho as minhas e sei que você tem as suas. Não há problema nenhum na existência de "panelas", o problema se encontra quando elas se tornam rivais ou desprezam ou ignoram ou zombam ou não se misturam de forma alguma umas às outras.

Mas meu objetivo hoje não é falar mal das pessoas ou panelinhas daqui.
Uma das coisas que ando aprendendo desde 2013, mas que aqui é mais difícil de manter na cabeça, é que todo mundo tem uma história.
Nem tudo o que uma pessoa aparenta é o que ela é (poucos sabem de cara que faço teologia, é engraçado!). Nem tudo o que ela faz, ela faz por mal.

Você consegue ver quem somos por trás das fantasias?
Sabe aquela menina que você olha e pensa: "Ela não se cuida, alguém tem que avisar pra ela que ela seria mais bonita se ela se cuidasse!"? Então, ela pode ser uma menina desapegada desse negócio de beleza e não estar nem aí pro que você acha, mas ela pode ser também uma menina que dentro de algum princípio no qual ela foi ensinada, execra toda e qualquer forma de vaidade. Ou pode ser uma pessoa que foi tão maltratada pela vida, teve pessoas que zombassem dela, que dissessem o quanto ela é feia, e por isso cresceu aceitando o que disseram a ela.

Sabe aquele cara zoeiro, que não está nem aí pras regras, que não tem responsabilidade com nada? Ele pode ser um garoto que lutou muito em sua infância para pertencer a um grupo e por isso se tornou o que é. Ele pode ter sido um garoto que, mesmo sem ter feito nada particularmente errado, tenha tido um pai bêbado que batia nele sem razão e o chamava de vagabundo, tanto que ele aceitou o que disseram pra ele.

Sabe aquela menina linda, maravilhosa, com cara de rica e pose de poderosa que você acha que é metida? Ela pode ser uma bolsista que teve que ver um dos seus irmãos abrindo mão do internato para que ela pudesse estar aqui.

Dizem que eu não pareço ter 24 anos, não pareço já
ser formado, nem pareço fazer teologia.
A menina que na sua opinião se veste como uma "prostituta", pode estar apenas querendo chamar a atenção por não ter tido a atenção necessária da sua família ou simplesmente aquela é a maneira dela de se sentir bonita. A menina que se veste como uma cristã
do século XIX (19 para os lerdos como eu) pode estar muito feliz consigo mesma e seus princípios. O cara que é bobão e parece desencaixado, sempre sorridente, talvez precise mais do seu abraço do que da sua zoeira. O estudante de Publicidade descolado, pode ser alguém cheio de marcas e cicatrizes que ele esconde por baixo do estilo. O estudante de teologia que sempre anda de terno e gravata e olha torto para coisas com as quais não concorda, talvez precise apenas de amigos que o acolham. O cara que não te cumprimenta no corredor pode realmente se achar superior, mas se for esse o caso, provavelmente a auto estima dele é baixa, ou ele pode ser apenas tímido, ou mesmo distraído.

Eu tive muitas dificuldades aqui. Morava sozinho, sem muitas regras estabelecidas por outras pessoas, sem ninguém no meu quarto com quem eu tivesse que compartilhar espaço, tinha diversos amigos com quem podia ser eu mesmo sem pressão nenhuma. Sempre amei conviver com as pessoas, sempre fui simpático mesmo quando estava mal. Mas eu tinha meu tempo sozinho, onde eu chegava em casa, fazia o que eu quisesse e recarregava as baterias para que pudesse abraçar o mundo social lá fora de novo. Aqui é mais difícil fazer isso, praticar esses rituais, principalmente no começo.

Não estou reclamando, é um aprendizado e tanto, principalmente pra mim que escolhi e fui escolhido para um ministério onde não importa a hora eu terei que estar forte para ajudar outras pessoas.
Mas aprendi uma coisa aqui: Valorize quem é legal, quem para pra bater um papo e conversar, quem cumprimenta. E entenda o lado dos que não são tímidos e nem tão ocupados assim e mesmo assim não fazem essas coisas. Acredite, é muito difícil passar 24h por dia no mesmo lugar com as mesmas pessoas e ainda assim manter a máscara de gente legal.

Não estou defendendo atitudes erradas com a "desculpa da história". Mas na maioria das vezes, tudo o que um chato, um metido, um "fariseu jr.", um "machão quebra-regras" ou um prepotente precisam é de algo que lhes dê o contrário do que eles dão. Um abraço, um ombro amigo, um sorriso.
Mesmo que talvez você fique com cara de tacho ao tentar cumprimentar alguém e não for visto. Mesmo que te olhem com cara tipo: "Novato, não é como as coisas funcionam aqui!", mesmo que você perca a amizade de algumas pessoas com quem você conversava no início.
Seja alguém que distribui alegria e amor.
Nunca se sabe quando é que o dia de alguém será melhor por causa do seu sorriso.
Talvez você só descubra no céu.

Mas é isso que fomos chamados por Cristo pra fazer. Amar, não julgar.
Pense duas vezes antes de zombar, antes de dizer algo do qual não tem certeza, antes de querer mostrar algo a alguém. Se ao invés de fazer isso, todos simplesmente amassem, tudo seria diferente.

Feliz restinho de sábado a você (e se estiver lendo isso depois de hoje, feliz semana)!
Até a próxima, seus lindos!


Você diria que essa "moça" é a minha mãe e que esse cara caucasiano é meu pai?

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